segunda-feira, 19 de julho de 2010

Morte

Morte
Não é com um tema nada agradável que eu retorno ao blog. Morte é um tema sempre chato, muitos acham mórbido. Desde pequena, nunca vi problema nenhuma na morte ou no fim da vida. Como tudo, acho que a vida tem começo, meio e fim. Uma hora tem que acabar mesmo.

Nunca tive medo de cemitério, na verdade, sempre tive uma certa atração por tudo que diz respeito a morte. Não no sentido mórbido, mas na tentativa de entender porque o fim incomodava tanto as pessoas. Isso é uma das coisas em mim que não mudou.

Não sou uma maluca, insensível e sem coração. Não fico feliz quando alguém morre, embora acredite que esse seria um caminho mais fácil, uma vez que a morte não tem jeito. Mas acho que a morte poderia ser vista e analisada de outra forma. O luto poderia ser melhor aproveitado, já que ele não tem jeito. Tem que ser vivido. Não temos escolha.

Não estou dizendo que não fica saudade, carinho, lembrança. Às vezes, fica raiva, medo, solidão. Tudo isso fica e ficará, faz parte da perda e do luto.

A pessoa morrer significa que a partir daquele momento ela não existe mais, virou pó, mas ela virou pó e não as coisas que viveu e que deixou. E ai que começa a minha forma de luto. Toda vez que alguém próximo morre, eu entro em um processo de análise do momento, da situação, do que ela deixou, do que passou para mim.

Quando um amigo meu morreu, eu não consegui derramar uma lágrima. Me senti uma freak. Todas as minhas amigas se descabelando no enterro, os meninos arrasados. Eu tava triste também. Abalada. Mas eu fiquei arrasada mesmo quando vi a família dele. Seus 3 irmãos sem alma, a mãe dele envelhecida uns 10 anos, o pai, antes com um olhar alegre, estava com um olhar perdido que nunca mais foi achado.

No momento que eu vi a família, chorei. Chorei pelo desespero deles, pelo sofrimento, pelo que poderia doer em mim se um irmão meu morresse de forma tão estúpida. Nesse momento, senti raiva. Muita raiva do Gustavo. Uma raiva que durou muitos anos e eu lembro toda vez que encontro um irmão dele.

Além da raiva que eu senti dele, ficaram lembranças da nossa infância, da sua alegria, das merdas que a gente fazia no colégio, dos churrascos na casa dele. Na última vez que a gente se viu, no meu aniversário de 21 anos. A lembrança dele ficou viva em mim, de alguma forma.

Sem choro nem vela, mas lembrado, com nostalgia e com saudade, mas nunca pensando, "ah, se ele estivesse aqui". Isso para mim é maluquice total. É não querer viver o presente para viver em um passado de ilusão. A pessoa acabou. Puf. Foi.

Eu vou na contra mão de maioria das pessoas, mas acho que é porque a minha família tem uma relação meio doentia com a morte. Meu tio avó até hoje não superou a morte da mãe. Fica pelos cantos justificando sua vida fracassada com a morte da mãe. Minha mãe faz a mesma coisa: tudo é culpa do pai maluco que morreu.

Acho uma maluquice sem fim justificar fracasso, no fracasso ou morte dos outros, mas entendo, que é muito mais fácil você não resolver seus problemas se pendurando na morte de alguém ou no fracasso de alguém. É uma forma mais fácil, menos dolorosa de ver a vida.

Pois bem, retomei o blog hoje, pois uma cliente aqui da agência morreu. Devia ter no máximo, 40 anos. Diretora de mkt. Vivia para o trabalho. Tinha acabado de ficar noiva. Ai fico pensando como é tudo tão efêmero, tão rápido, tão passageiro, tão frágil.

Ficar enfiada dentro do trabalho não pode ser a minha única razão de viver. Não pode. Existe vida lá fora e ela pode acabar de repente. E o que eu vou deixar se acabar amanhã? O que as pessoas vão lembrar? O que eu fiz ou vou fazer que vai fazer alguém pensar em mim com carinho e admiração? Será que eu só vou ser lembrada por ser responsável, trabalhadora, inteligente? Isso já é uma grande coisa. Só preciso avaliar se é só isso que eu quero deixar.

Essa perda de hoje, está me fazendo pensar que não. Não é só isso que eu quero deixar. Por mim. A vida não será reduzida a receber dinheiro, ficar o mês todo torcendo para o outro mês chegar e entrar mais dinheiro.

A vida é sempre tão intensa que quando a gente vê, entramos em um círculo vicioso, um buraco negro que te leva para um mundo que você não queria, mas quando acordar daqui ha 20 anos, vai ver que foi isso que foi construído.


Hora de acordar.

Um comentário:

  1. Adorei o texto Manu... pelo que vi já tem um tempo que escreveu, nao acompanhava o blog mas amei o texto... Obviamente pensei em minha mãe neste momento e de repente passo a ver as coisas de um outro jeito. Também não fico pensando se ela estivesse aqui, o que costuma acontecer é "Nossa, já estive numa situação igual com ela e foi muito bom" e começo a lembrar como foi bom e ponto final.
    Vou ler o resto dos textos. Beijos Fievel

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